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Moura: O castelo sobre as planícies

Moura, situada em pleno Baixo Alentejo, é um concelho que se destaca pela sua autenticidade, história milenar e paisagens de cortar a respiração. Situada junto à fronteira com Espanha, Moura é um convite à descoberta de um Alentejo menos conhecido, onde a tradição e a modernidade convivem em harmonia. O concelho, com uma forte ligação à terra e à água, é marcado pela presença do grande lago de Alqueva e por extensos olivais, que moldam a paisagem e a vida das suas gentes.


História

A história de Moura remonta à ocupação romana, quando era conhecida por Aruci Novum. Mais tarde, durante o domínio muçulmano, a cidade ganhou o nome de Al-Manijah, estando a atual designação ligada à lendária Moura Salúquia, uma história que ilustra a transição entre o domínio muçulmano e a reconquista cristã. Segundo a lenda, Salúquia era filha do governador muçulmano Abu Hassan e estava prometida a um jovem alcaide do castelo. Enquanto aguardava ansiosamente o regresso do noivo, que partira para combater os portugueses, Salúquia foi vítima de uma maldade: os cristãos emboscaram e mataram o noivo, vestindo-se com as suas roupas para enganar os defensores da fortaleza. Ao aperceber-se do engano e preferindo a morte à escravidão, Salúquia lançou-se da torre do castelo, gesto que ficou imortalizado no nome da cidade e na sua memória coletiva.

O castelo de Moura, erguido no ponto mais alto da cidade, é testemunho das intensas disputas pelo controlo do território, com vestígios que remontam à Idade do Ferro e evidências das épocas islâmica e cristã. Após a reconquista cristã, em 1232, Moura recebeu a sua primeira Carta de Foral por D. Dinis em 1295, consolidando a sua importância estratégica. O concelho foi ainda palco da fundação do primeiro convento da Ordem dos Carmelitas em Portugal e na Península Ibérica, sendo que a Igreja Matriz de São João Batista, construída no início do século XVI, é hoje Monumento Nacional.


Património

O património de Moura é vasto e diversificado. Para além do castelo, destacam-se a Igreja de São João Batista e a Igreja Matriz de Santo Aleixo, ambos classificados como monumentos nacionais. O centro histórico revela um interessante contraste entre igrejas majestosas, capelas discretas, casas brancas de arquitetura popular e palácios aristocráticos. A Mouraria, bairro extramuros criado após a reconquista, mantém vestígios da presença islâmica, enquanto o Museu Municipal de Moura guarda um valioso espólio arqueológico, com peças da Idade do Ferro, artefactos romanos, lápides islâmicas e armaria dos séculos XVI e XVII.


Para além da cidade de Moura, o concelho integra várias aldeias e freguesias que merecem destaque: Amareleja, famosa pelas temperaturas extremas e pelo seu vinho robusto; Póvoa de São Miguel, com tradições agrícolas e paisagens de olival; Safara, de ambiente rural e património religioso; Santo Aleixo da Restauração, conhecida pela proximidade à fronteira e história de resistência; Sobral da Adiça, com vestígios arqueológicos e festas populares; Santo Amador, que mantém o ambiente típico das pequenas povoações alentejanas e mantém uma cultura tradicional viva, que inveja várias localidades maiores e a Estrela, uma pitoresca aldeia que antes estava situada num monte, se tornou península após a subida das águas do Alqueva.


Entre os principais pontos de interesse turístico de Moura, o visitante encontra o Lagar de Varas do Fojo, transformado em Museu do Azeite, que ilustra a importância do olival e do azeite na economia local. A Anta da Negrita, monumento megalítico, é outro testemunho da ocupação humana milenar do território. O concelho integra ainda a Rota dos Vinhos do Alentejo e o Itinerário de Turismo Cultural Terras da Moura Encantada, proporcionando experiências que cruzam história, cultura e sabores.


Natureza

A natureza em Moura revela-se em toda a sua plenitude na Herdade da Contenda, uma vasta propriedade pública que se tornou uma referência nacional na conservação da biodiversidade. Aqui, o Centro Contenda NATUR oferece aos visitantes percursos pedestres e atividades de observação de fauna e flora, com destaque para espécies emblemáticas como o lince-ibérico, o abutre-preto, a águia-real e a cegonha-preta. A paisagem, marcada por montados, olivais e o grande lago do Alqueva, convida à contemplação e ao contacto direto com a natureza. A Herdade da Contenda é também palco de projetos de reintrodução de espécies ameaçadas e de iniciativas de turismo sustentável, sendo um exemplo de equilíbrio entre a conservação e o desenvolvimento local.


Cultura

A cultura e as tradições de Moura são profundamente alentejanas. O cante alentejano, Património Imaterial da Humanidade, ecoa nas tabernas e cafés ao final do dia, animando o convívio e reforçando o sentido de comunidade. As festas e romarias, como a Feira de Maio ou Setembro e as celebrações em honra de Nossa Senhora do Carmo, mantêm vivas as raízes religiosas e populares. O artesanato local, com destaque para a olaria, a cestaria e os bordados, reflete saberes transmitidos de geração em geração. As múltiplas festas estivais pelo município, em honra dos vários padroeiros de cada localidade, são uma prova de vivacidade e orgulho de cada terra, onde muitos aproveitam para voltar às suas raízes vindos de todo o país e além fronteiras.


A gastronomia de Moura é um dos seus maiores trunfos. À mesa, desfilam sabores autênticos do Alentejo: enchidos de porco de raça alentejana, pão regional, queijos de ovelha das regiões vizinhas, azeite DOP Moura e azeitonas temperadas com sal e orégãos. Entre os pratos típicos, destacam-se a sopa de cação, o caldo de beldroegas, o gaspacho, a açorda, as migas com entrecosto, o ensopado de borrego e a feijoada. Os petiscos, como torresmos, pimentos assados, cabeça de borrego, fígado de coentrada, cogumelos assados ​​e salada de polvo, são presença obrigatória nas tasquinhas. A doçaria, de forte influência conventual, oferece iguarias como a sericaia, os queijinhos do céu, o pão de rala e o manjar de gila, sempre acompanhados por vinhos brancos e tintos DOP Alentejo.


Entre as curiosidades menos conhecidas, destaca-se o facto de Moura ter sido palco do primeiro convento carmelita da Península Ibérica e de possuir uma das maiores áreas de olival contínuo da Europa.

Destaca-se o percurso temático “Do Castello até Pisões”, que permite revisitar a história da Água Castello e a sua ligação à cidade, atravessando paisagens emblemáticas e terminando no Museu Castello.

Moura tem uma linda ligação à água, seja pelo Ardila, pelo Guadiana, pela barragem do Alqueva ou pelas nascentes minerais, é um elemento identitário.

A Herdade da Contenda, para além do seu valor ecológico, foi durante décadas uma referência na caça sustentável e na produção de cortiça, sendo hoje um exemplo de gestão multifuncional do território.


Dicas de visita

Para quem planeia visitar Moura, a melhor altura do ano é entre o final de junho e o início de setembro, quando o clima é quente e seco, ideal para atividades ao ar livre e para desfrutar das esplanadas e festas populares. O verão é longo e intenso, com céus quase sempre limpos, enquanto o inverno é mais fresco e com alguma precipitação, mas raramente rigoroso.


Moura está bem servida de acessos: a partir de Lisboa, a viagem faz-se em cerca de duas horas pela A2 e IP7, seguindo depois pela N114 e N384; de Évora, são apenas 75 km, e de Beja, 55 km. A proximidade a Espanha, nomeadamente a Badajoz, reforça o carácter transfronteiriço do concelho.


Moura é, assim, um destino que surpreende pela riqueza do seu património, pela autenticidade das suas gentes e pela diversidade das suas paisagens. Longe dos roteiros turísticos mais massificados, oferece uma experiência alentejana genuína, onde cada visita é um convite à descoberta de histórias, sabores e tradições que resistem ao tempo.

Para quem procura conhecer um Portugal autêntico, Moura é paragem obrigatória, onde a hospitalidade e o ritmo tranquilo do sul se revelam a cada esquina.

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